A Odisseia do Equívoco

      Texto apresentado no Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Literatura do ICPOL / EBP – Sessão Sul, enquanto leitura e pesquisa da obra de Joyce.


     Antes de iniciar gostaria de agradecer a insistência desta pessoa que se tornou um grande amigo e mentor, Gustavo, pelo auxílio e orientações neste percurso da psicanálise.

    Bom, agradecimentos foram feitos. Queria dizer que ontem ele entrou em contato comigo perguntando sobre esta apresentação, respondo que ela está sendo gestada, mas quintahoje ela nasce. 

    Mas, antes dela nascer, preciso escrever, e ao iniciar este texto, um fato surge na minha mente, o momento em que o Juan nos conta sobre seu ato falho em análise, ao trocar a ordem do título Um retrato do artista quando jovem.
    Movido pela coragem dele, apresentar seu pequeno lapso, sinto a necessidade de também expor o meu equívoco não falado para vocês.
   

 Antes de iniciarmos este semestre no núcleo, em algum momento do semestre anterior soube que iríamos ler Ulysses, ao saber disso, fico feliz e penso, finalmente vou ler e riscar da minha lista de livros a ler, o livro tão falado de Homero.

 

     Passaram-se alguns dias e me mantive contente com essa expectativa de ler Homero, até que um dado momento, me deparo com o assombro do real, o livro do Homero não se intitula Ulysses e sim Odisseia. Me encho de vergonha e penso: “Nossa, ainda bem que não falei para ninguém que ia ler Homero”, pelo menos até agora. Confesso que o tempo que surge o pensamento de ler Homero até perceber que iria estar lendo Joyce, demorou mais tempo do que gostaria para dizer que fora apenas um lapso.

    – Errar é humano, mas se errar tente de novo, Edy Boardman disse. [p. 361]

    Nessas horas penso que é bom ser homem né? Um defeito é dez vezes pior numa mulher, pelo menos elas ficam educadas… menos perto das regras, imagino, ficam todas sensíveis. [p.372]

   

    Sobre meu equívoco, entre Odisseia e Ulysses me sinto menos mal, após ver a fala do Galindo no vídeo que a Eneida nos havia enviado e é nítido a relação que Joyce toma de Homero para construir seu texto e seus capítulos, até mesmo a centralidade entre pai e filho sem serem. Homero vai trazer Odisseu e Telêmaco e do nosso lado temos Bloom e Dédalus.

   

    Dédalus já nos é familiar e vimos ele crescer, apanhar, gozar, blasfemar e fugir. Porém Bloom surge, assim como quando conhecemos alguém e não nos é apresentado formalmente, a gente precisa de tempo para que se conheça e o tempo em Joyce é contado por páginas e não pela quantidade de sal que comemos junto de alguém. Menos talvez para o Gustavo, que já é familiar de Bloom e conhece ele até a última pétala que flutua. 

   

    Parece que a missa acabou. Dava para ouvir todo mundo junto. Orai por nós . E orai por nós. E orai por nós. Boa ideia a repetição. Mesma coisa com os anúncios. Comprai de nós. E comprai de nós. [p.381].

    Diferente de Homero, Joyce não nos apresenta um pai e um filho, mas sim um pai sem filho e um filho sem um pai, pai este que não morreu mas sim é renegado, ou seja Joyce através de Dédalus manteve foracluído o nome-do-pai.

    Sempre dá para ver o ponto fraco de um camarada na mulher dele. Ainda assim tem uma parte que é destino, nisso de se apaixonar. Uns sujeitos iam ser jogados para os cachorros se alguma mulher não tivesse estendido a mão para eles. [p.377].

    É disso que elas gostam. Tirar um homem de outra mulher. Ou até ouvir falar disso. Diferente comigo. Feliz de me livrar da mulher de outro sujeito. Comendo os restos dele. [p. 375].

    Conhecer Joyce foi uma experiência incrível e me trouxe algumas questões:

– Será que os peixes nunca ficam mareados? [p.382]

– Mas aí por que é que as mulheres todas não menstruam ao mesmo tempo com a mesma lua? [p.372]

– Por que Põe tudo aquilo pra tirar aquilo tudo. [p.373] 

– Como é que as pessoas podem mirar uma arma na cara da outra? [p.383]

    Apesar das dúvidas, também deixa certezas: 

– As armas às vezes disparam [p.383]

– Os pássaros também a gente nunca sabem o que eles dizem [p.382] 

– As crianças sempre querem jogar coisas no mar [p.385]

– Peitinhos pequenos para começar. O esquerdo é mais sensível, eu acho. O meu também. Mais perto do coração. [p.383]

    Que maravilha que eu não fiz no banho. [p.372] enquanto isso, o senhor Bloom com seu pau suave remexia a areia grossa a seus pés… agora apagou as letras com sua bota lenta. Coisa mais inútil a areia. Não cresce nada. Tudo murcha. [p. 385].

    Para terminar… “Refúgio dos pecadores. Consoladora dos aflitos. Ora pro nobis“. [pg. 363].



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


GALINDO, W. C. Aula aberta com Caetano W. Galindo – Ulysses, 100 anos https://youtu.be/B4mrTGxgRyc 05 de set. de 2024  


JOYCE, J. [1882-1941] Ulysses / James Joyce ; tradução e organização Caetano W. Galindo, ilustrações Robert Motherwell – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

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